Estamos com vagas abertas! Confira!

Quer trabalhar no Centro Lemann? Estamos contratando! 

Neste início de ano estamos com diversas #vagas abertas. Quer saber quais são? Confira abaixo a lista completa e clique no link para conhecer mais sobre cada uma delas. 

         

       

        

       

       

Currículo e carta de apresentação devem ser enviados até o dia 22 de janeiro! Veja no descritivo de cada vaga como se candidatar.

2º Encontro de Prefeitas e Prefeitos pela Equidade na Educação

Nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, cerca de 100 prefeitas(os) e secretárias(os) de educação de 43 municípios brasileiros se reunirão em Sobral (CE) para refletir sobre o seu papel na promoção de uma educação pública de qualidade para todas(os), sem que nenhum(a) estudante fique para trás. O 2º Encontro de Prefeitas e Prefeitos pela Equidade na Educação é uma iniciativa do Centro Lemann e faz parte do processo de adesão ao Programa de Formação de Lideranças Educacionais, que já atende 49 redes municipais localizadas nas cinco regiões do país e abriu inscrições para novos interessados. 

Ao longo do evento, as lideranças municipais terão a oportunidade de analisar os dados educacionais dos seus municípios a partir de recortes de raça, gênero, nível socioeconômico, geografia e deficiência, de forma a ter uma visão mais ampla sobre as desigualdades existentes em suas redes e escolas. Também dialogarão com prefeito e ex-prefeitos de Sobral, que assumiram o compromisso político e tomaram decisões inovadoras que resultaram na revolução educacional  realizada naquele município.

Participantes poderão conhecer mais a fundo o Programa de Formação de Lideranças Educacionais  do Centro Lemann, iniciativa que  visa fortalecer o compromisso e a capacidade de gestores de promover aprendizagem com qualidade e equidade em suas escolas e redes. Também poderão interagir com  lideranças, que fazem parte da primeira turma do programa, iniciado em 2022, a exemplo de Ana Albuquerque, vice-prefeita de Currais Novos (RN), e Simone do Rocio,  secretária de educação de Ponta Grossa (PR).

“Nas mais bem-sucedidas experiências de enfrentamento às desigualdades na educação, gestores de secretarias e escolas assumem e desenvolvem papel estratégico na afirmação de uma educação que, de fato, promova a equidade”, ressaltou Rogers Mendes, gestor do Programa de Formação de Lideranças Educacionais do Centro Lemann.

Em Sobral, as lideranças terão a oportunidade de entrar em contato com uma das experiências mais exitosas no cenário educacional brasileiro, conhecida por enfatizar a alfabetização e eliminar a evasão escolar. A programação também irá  oportunizar momentos de trocas, como a roda de conversa com as principais lideranças educacionais responsáveis pela revolução educacional empreendida no município cearense, a exemplo de Ivo Gomes e Veveu Arruda, respectivamente prefeito e ex-prefeito de Sobral. 

A equipe da Secretaria de Educação do município irá compartilhar sua experiência com a seleção de gestoras(es) escolares. Participam deste debate Herbert Lima Vasconcelos, secretário de educação, Amaury Gomes, diretor da Esfapege, Sâmia Linhares, superintendente escolar,  e Cleber Rodrigues, diretor da Escola de Ensino Fundamental Osmar de Sá.

Por fim, os participantes vão conhecer as contrapartidas e os compromissos para adesão ao Programa de Formação. 

 

PROGRAMAÇÃO

30/11

Manhã

Momento 1- Abertura e acolhida
Momento 2 – Atividade de engajamento
Momento 3 – Apresentação: marcadores de desigualdade na educação
Momento 4- Painel interativo: “Qual o papel de uma prefeita e de um prefeito na garantia de educação com qualidade e equidade no seu município”
Com Ivo Gomes, prefeito de Sobral e Veveu Arruda, ex-prefeito de Sobral e diretor-executivo da Associação Bem Comum.

Tarde
Momento 5 – Painel interativo: “A experiência de Sobral com seleção, formação e acompanhamento de gestoras(es) escolares”
Com Herbert Lima Vasconcelos, secretário de educação de Sobral, Amaury Gomes, diretor da Esfapege, Sâmia Linhares, superintendente, e Cleber Rodrigues, diretor da Escola de Ensino Fundamental Osmar de Sá.

Momento 6 – Apresentação dialogada
Com Rogers Mendes, gestor do Programa de Formação de Lideranças Educacionais do Centro Lemann, Ana Albuquerque, vice-prefeita de Currais Novos (RN), Simone do Rocio,  secretária da educação de Ponta Grossa (PR).

01/12

Manhã

Momento 1 – Abertura e acolhimento
Momento 2 – Autoavaliação das condições das redes para adesão ao Programa de Formação de Lideranças Educacionais
Momento 3 –  Atividade em grupo para identificação de soluções aos possíveis desafios das redes, relativos ao desenvolvimento do Programa de Formação de Lideranças 
Momento 4 –  Plenária final: discussão sobre soluções e compromissos para o desenvolvimento do Programa de Formação de Lideranças Educacionais
Momento 5 – Orientações finais para adesão ao Programa de Formação de Lideranças Educacionais

II Colóquio Centro Lemann: Pesquisa em Equidade na Educação

O que já sabemos e o que ainda precisamos gerar de conhecimentos sobre as desigualdades educacionais no Brasil? Como pesquisas de ponta podem ajudar o país a mapear evidências e desenvolver soluções que possam assegurar que todos os estudantes aprendam e ninguém fique para trás? Estas são algumas das perguntas que orientarão as apresentações, os debates e oficinas do II Colóquio Centro Lemann – Pesquisa em Equidade na Educação. O encontro acontece presencialmente nos dias 28 e 29 de novembro, na cidade de Sobral (CE) e reunirá cerca de 70 pessoas engajadas em pensar caminhos para a promoção de uma educação básica de qualidade com equidade. 

A programação foi pensada para promover a interação entre pesquisadores, agências de fomento e outras organizações empenhadas em investigar esses temas, com plenárias e atividades em grupo voltadas prioritariamente para a construção de uma agenda colaborativa de estudos aplicados, que possam gerar mudanças na prática. Em meio a esse ambiente cooperativo, a ideia é identificar as prioridades de pesquisa e criar sinergias para a produção de conhecimento de ponta, que apoie de forma efetiva as redes públicas de educação no país.   

Alejandra Meraz Velasco, gestora do Centro Lemann e coordenadora do evento, destaca que “a pesquisa para a promoção da equidade na educação exige foco na superação das desigualdades, abordagens interdisciplinares, adoção de metodologias quantitativas e qualitativas que se complementam, projetos que articulem academia, governo e terceiro setor. São esses fatores que buscamos reunir e engrenar no II Colóquio do Centro Lemann”.

Com a participação de  especialistas nacionais e internacionais, o Colóquio conta com painéis de apresentação de resultados de pesquisa e metodologias inovadoras com foco na promoção da equidade na educação, além de se debruçar sobre a necessidade de  estruturação de agendas de pesquisa que busquem soluções voltadas a responder às principais dificuldades vivenciadas pelas redes de educação. Também fazem parte da programação a apresentação da Revista Equidade, desenvolvida pela equipe do próprio Centro Lemann, e a pesquisa Desenvolvendo lideranças escolares efetivas: que tipo de aprendizagem importa?,  realizada sob a coordenação das especialistas  Linda Darling-Hammond, presidente e CEO do Learning Police Institute (dos Estados Unidos), e Marjorie Wechsler, gestora de pesquisa na mesma instituição, que também participam do Colóquio. 

O encontro conta ainda com apresentações de Sonya Douglas Horsford, professora e diretora do Coletivo de Pesquisa em Educação Negra (BERC), do Teachers College, Universidade de Columbia (EUA); de Rafael de Hoyos, sócio-fundador da Xaber Educación LATAM (México) e economista sênior do do Banco Mundial; e de Lara Simielli, diretora de conhecimento aplicado na D3e (Dados para um Debate Democrático na Educação) e professora da Fundação Getúlio Vargas. Os estudos apresentados também serão comentados pelos especialistas Alexsandro Santos, diretor-presidente da Escola do Parlamento, Alex Moreira, gerente de educação da Vetor Brasil,  Filomena Siqueira, gerente de avaliação e material didático do Instituto Reúna, e Hebert Lima Vasconcelos, Secretário de Educação do Município de Sobral. 

PROGRAMAÇÃO

28/11

Manhã

Momento 1:
Pesquisa aplicada sobre desigualdades educacionais: metodologias e resultados
Pesquisas para a equidade étnico-racial
Com Sonya Douglass Horsford
Professora e diretora do Coletivo de Pesquisa em Educação Negra (BERC), Teachers College, Universidade de Columbia

Pesquisas sobre desigualdade socioeconômica 
Com Rafael de Hoyos
Sócio-fundador da Xaber Educación LATAM (México)  e economista sênior do Banco Mundial.

Debate com participantes

Momento 2:
Construção de agenda colaborativa de pesquisa para a equidade na educação 
Levantamento preliminar de pesquisas acadêmicas e não acadêmicas sobre desigualdades educacionais 
Com Lara Simielli
Diretora de conhecimento aplicado na D3e (Dados para um Debate Democrático na Educação) e professora da Fundação Getúlio Vargas.

Atividade de cocriação em subgrupos: O que ainda não sabemos e precisamos saber para promover a equidade na educação?

Tarde

Momento 3: 
Construção de agenda colaborativa de pesquisa para a equidade na educação (continuação)

Apresentação e validação dos resultados dos trabalhos dos subgrupos 

Segunda rodada de cocriação em subgrupos: Que pesquisas priorizar, como desenvolvê-las e com que objetivo?

Momento 4: 
Lançamento da Revista Equidade

29/11

Manhã

Momento 1:
Expectativas e oportunidades para fazer avançar  uma agenda colaborativa de pesquisa para equidade na educação 

Momento 2:
Pesquisa aplicada sobre lideranças educacionais: metodologia e resultados 

Apresentação da versão em português do relatório da pesquisa: Desenvolvendo lideranças escolares efetivas. Que tipo de aprendizagem importa? 
Com as autoras:  
Linda Darling-Hammond 
Presidente e CEO, Learning Policy Institute

Marjorie Wechsler 
Gestora de pesquisa, Learning Policy Institute

Debatedores
Alexsandro Santos, diretor-presidente da Escola do Parlamento
Alex Moreira, gerente de educação da Vetor Brasil
Francisco Herbert Lima Vasconcelos, Secretário de Educação do município de Sobral

Momento 3:
Apresentação da II Chamada Aberta do Programa de Pesquisa Aplicada do Centro Lemann | Encerramento

Tarde

Momento 4:
Atividades extras
Visita a escolas de educação básica de Sobral e reuniões das equipes de pesquisa, mentores e pesquisadores apoiados pelo Centro Lemann.



Segredos do sucesso de Sobral

Recentemente a consultora e pesquisadora norte-americana Kat Patillo viajou até Sobral para conhecer de perto a experiência dessa cidade que tanto nos inspira e onde temos a nossa sede. Agradecemos à Kat que nos presenteou com o relato da sua experiência por lá! Confira Abaixo

Segredos do Sucesso de Sobral

Por Kat Pattillo*

*Kat Pattillo apoia e escreve sobre lideranças educacionais responsáveis por transformações sistêmicas no hemisfério do Sul. Recentemente, apoiou a área de Comunicação e Parcerias do Centro Lemann de Liderança para a Equidade na educação em sua estratégia de coinvestimentos. É cofundadora da Metis, organização que forma uma rede de líderes educacionais no Quênia, e ex-professora na African Leadership Academy, na África do Sul. Além disso, pesquisou sobre coalizões educacionais bem-sucedidas na Índia e no Brasil (via Universidade de Oxford). Tem apoiado organizações como Imaginable Futures e ALforEducation Network.

A estrada para Sobral é cortada por margens de rios secos e cobertos de terra batida. A medida que nos afastamos de Fortaleza, os galpões industriais da Amazon e da Fedex vão dando lugar às carnaúbas, árvores típicas daquele ambiente árido, seguidas de alguns poucos postos de gasolina e comunidades de casinhas com redes penduradas nas varandas. Recentemente sob um calor que parecia ser de 37 graus, cortinas de fumaça subiram sobre as montanhas rochosas, enquanto o fogo queimava os arbustos secos que deixavam a terra carbonizada.

Essa é a zona rural do estado do Ceará no Brasil, onde um improvável sucesso aconteceu. Em uma pequena cidade de cerca de 200.000 pessoas, a quatro horas da capital do estado, a maioria das crianças estava em salas de aula mas não estavam sendo alfabetizadas como era esperado mesmo cenário de tantos outros lugares no Hemisfério Sul. Mas nesta cidade, algo diferente aconteceu, durante um período de 12 anos uma decisão política produziu uma grande reforma educacional no município. Em 2005, Sobral estava na 1.366 posição entre 5.570 municípios do Brasil que ofereciam a melhor educação básica, em 2017, passou a ocupar o primeiro lugar no país no ensino fundamental e médio.

Eu fui a Sobral em Outubro de 2022 como parte de uma viagem organizada pelo Centro Lemann de Liderança e Equidade na Educação, com um grupo de lideranças escolares vindos de várias partes do estado de São Paulo, possíveis financiadores, e membros da organização Parceiros da Educação.  Visitamos escolas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, e nos reunimos com lideranças do município, incluindo Ivo Gomes, atual prefeito e ex-secretário de Educação de Sobral.

A pergunta que todos queriam saber era: o que deu certo em Sobral? Pelo que vi e compreendi, podemos resumir seu êxito em 10 etapas principais:

1. Vontade Política: questão mais importante, para que as reformas comecem, os políticos, tomadores de decisão municipais, precisavam priorizar seu tempo e orçamento para a educação ao lado de questões urgentes como saúde, habitação, empregos e violência. O ex- prefeito Cid Gomes foi enfático nesse ponto.

2. Continuidade: apenas vontade política não é suficiente. Em Sobral, uma coalizão estável de centro-esquerda conseguiu manter o mesmo projeto político no poder por mais de 25 anos. (Cid Gomes foi prefeito de 1997 a 2004, Leônidas Cristino de 2005 a 2010, Veveu Arruda de 2010 a 2017 e Ivo Gomes de 2017). Como resultado, os prefeitos poderiam planejar e implementar políticas de forma mais permanente e não apenas resumidas a uma única gestão.

3. Líderes Escolares com Coordenadores de Ensino: nas escolas brasileiras, o Diretor possui papel essencial dentro das escolas e Sobral investiu nisso. Lá o Diretor é o responsável pela gestão escolar, e supervisiona os fluxos, operações, finanças e funções administrativas. A figura do Coordenador Pedagógico passa a ser o responsável pelo o que acontece dentro da sala de aula, embora tenha também o acompanhamento próximo do Diretor. Na escola de educação infantil que visitamos, quatro Coordenadores Pedagógicos circulavam para ajudar os professores a preparar planos de aula, observar aulas e orientar professores. Na minha opinião, esse investimento no apoio intensivo aos professores é o ingrediente mais importante para o sucesso da reforma. Embora muitas outras escolas brasileiras tenham Coordenador Pedagógico, Sobral as usou de forma particularmente eficaz.

Quatro Coordenadores de Pedagogia (à direita) e seu Diretor (à esquerda).

4. Contratação e Seleção de Lideranças Escolares: além de mudar o papel dos líderes escolares, Sobral também mudou o processo de seleção e contratação deles. A distribuição dos cargos das lideranças escolares costumava ser político, marcado por nomeações baseadas em clientelismo político e alianças não pedagógicas. Após as reformas, os líderes escolares passaram a ser selecionados com base em critérios técnicos e habilidades para liderar uma escola.

5. Material Didático: em Sobral as crianças de uma mesma série utilizam o mesmo material didático em todas as escolas da rede. São livros e apostilas desenvolvidos por uma equipe de especialistas da Secretaria de Educação. Os materiais estimulam o desenvolvimento de habilidades cada vez mais complexas, com exercícios projetados com base em evidências, e mais eficazes para promover aprendizado. Os professores também usam um guia comum que descreve uma sequência de objetivos de aprendizagem específicos para cada disciplina, mas eles têm a liberdade de criar seus próprios planos de aula. Os livros de exercícios e os guias de aula garantem que eles promovam o aprendizado dos alunos por meio de um currículo alinhado à base comum curricular brasileira.

6. Fluxo de Conhecimento Através do Sistema: uma vez por semana, todos os líderes escolares da cidade se reúnem na Secretaria de Educação do município. Nesta sessão semanal de quatro horas, eles compartilham sucessos e desafios, trocam dados sobre todos os seus alunos, além de abordarem práticas e/ou ferramentas úteis para todos. Os professores também têm um tempo dedicado todas as semanas para se reunir com seus pares  e trocar sobre seus planos de aula. Em uma semana de trabalho de 40 horas, são 32 horas em sala de aula e 8 horas reservadas para o planejamento de aulas, reuniões com outros professores e treinamento.

7. Começando Cedo e Priorizando a Saúde: no Brasil, todas as crianças são obrigadas a frequentar a pré-escola dos 4 aos 6 anos. No entanto, em Sobral também são oferecidas creches para crianças de 1 a 3 anos. Os espaços seguros para bebês e crianças pequenas, os protegem de eventuais violências domésticas – o que pode  trazer benefícios para toda a vida, pois traumas domésticos pioram os resultados do aprendizado a longo prazo. Sabemos que os primeiros três anos de vida são particularmente críticos para o crescimento do cérebro e do corpo de bebês e crianças pequenas. Sobral decidiu investir na educação infantil para expor as crianças pequenas a mais palavras desde cedo, o que contribui para que sejam leitores mais preparados. Como todas as escolas do Brasil, as de Sobral oferecem um lanche diário gratuito para todos os alunos e também contam com a visita de agentes de saúde que ajudam a diagnosticar aqueles que precisam de óculos e outros cuidados.

Alunos durante o recreio em uma pré-escola (Centro de Educação Infantil).

8. Avaliação e Acompanhamento Frequentes e Suporte Intensivo: os alunos fazem avaliações a cada dois meses. Os professores usam esses dados para acompanhar o aprendizado e as dificuldades dos estudantes.  Alunos que necessitam de um maior apoio  recebem uma formação intensiva suplementar. Esse acompanhamento ajuda a Secretaria de Educação e os Coordenadores de Pedagogia da cidade a ter uma noção clara do progresso da rede. 

Dois pontos me surpreenderam totalmente:

9. Mínimo Uso de Tecnologia: ouvimos muito sobre o poder da tecnologia para aprender em escala, mas o modelo de Sobral é feito quase inteiramente no papel, analogicamente! Todos os alunos escrevem seus questionários e exercícios à mão, e os professores fazem o mesmo nas suas coletas de dados para a secretaria de educação. Isso me fez perceber que as mudanças sistêmicas não necessariamente precisam envolver software sofisticado, tablets caros ou sugerir que professores mudem seus hábitos para adotar tecnologia desconhecida.

10. Confiança e Orgulho: isso é difícil de explicar, mas dos Diretores de Escolas, aos  Coordenador Pedagógico até o Secretário de Educação, todos são bastante orgulhosos de fazerem parte dessa história – é possível notar esse forte sentimento. Podemos dizer que eles têm o que os especialistas chamam de alta autoeficiência, ou seja, a crença de que podem fazer isso. Estive em tantas escolas onde os líderes falam sobre o quão difícil é seu ambiente – o que é muitas vezes justificado, porque eles geralmente merecem melhores condições escolares e melhor tratamento por parte da gestão pública! Mas o que existe de diferente em Sobral é que os líderes sabem que fazem parte de algo maior, importante e que está dando certo. E quando enfrentam desafios buscam encontrar uma solução. Foi tão revigorante ver esse tipo de postura confiante. Claramente, o esforço de reforma está fazendo algo para desenvolver esse tipo de autoeficiência em todos os envolvidos – seja intencionalmente ou não. Isso é difícil de medir, mas acredito que seja um ingrediente chave para o sucesso de Sobral.

Professores conversando com convidados durante um círculo de leitura.

Muitas organizações estão se inspirando nos métodos de Sobral, aplicando-os em outros sistemas de ensino. Cid Gomes, quando foi governador do estado do Ceará, implementou abordagens semelhantes em todo o estado. A Associação Bem Comum capacita lideranças de outras localidades a partir dos aprendizados de Sobral (CE). E o Centro Lemann está, no seu primeiro ano de atuação, formando mais de 2.100 líderes educacionais, de 56 municípios do Brasil e em países como Quênia e Paquistão. Em 15 anos, o Centro pretende chegar a todas as redes de ensino municipais e estaduais do Brasil

O sistema de Sobral definitivamente não é perfeito. Entrei em uma sala de aula onde uma briga entre os alunos acontecia enquanto um professor estava do outro lado da sala. Os resultados da cidade no ensino fundamental e médio não são tão fortes quanto os resultados no ensino fundamental. Como a maioria das escolas brasileiras, muitas de Sobral não são de tempo integral (Sobral está em processo de expansão do período integral para todos os alunos). Além disso, críticos dizem que o foco incansável do município em fazer com que todos saibam ler e escrever na idade certa faz com que as crianças pequenas tenham menos tempo livre e momentos dedicados ao brincar.

No entanto, Sobral quer melhorar continuamente e encara essas críticas como oportunidade. Suas reformas até agora mostram que, mesmo em um ambiente difícil com recursos e desafios semelhantes a outras cidades, líderes educacionais podem promover reformas contundentes  em um intervalo de 15 anos. Para os interessados em promover melhoras na educação básica e pública, há muito o que se aprender com esta cidade no interior do Brasil. 

Para se aprofundar na metodologia e na reforma educacional produzida por Sobral, leia os estudos de caso aprofundados da RISE (aqui e aqui) e do Banco Mundial.

(O espaço para a publicação desse artigo foi cedido e as opiniões pessoais aqui apresentadas pertencem exclusivamente à autora e não ao Centro Lemann.)

 

Guia indica o passo a passo para seleção de gestores escolares por competências técnicas

Com o objetivo de apoiar as equipes das secretarias de educação, o Centro Lemann, em parceria com o Instituto Gesto e o Vetor Brasil, desenvolveu um guia para orientar a construção ou revisão da legislação dos municípios relacionada ao processo seletivo de gestores escolares, com base em competências técnicas.

Acesse o GUIA PRÁTICO PARA QUALIFICAÇÃO DO PROCESSO SELETIVO DE GESTORES ESCOLARES

No primeiro capítulo, lançado nesta terça-feira, dia 6, está o passo a passo de como organizar a pré-seleção dos candidatos à vaga de gestores de escolas com base em competências técnicas. Por meio de perguntas orientadoras, respondidas por especialistas em gestão pública, pautados em estudos sobre o tema e leis em vigor, as equipes poderão desenhar seus processos dessa etapa e cumprir a legislação, podendo receber recursos complementares da União, por meio do VAAR.

Na publicação, também estão incluídos documentos editáveis, com modelos de projeto de lei, decreto e portaria, instrumentos para regulamentar a legislação, assim como links que levam às leis e aos planos da educação pública de nosso país, facilitando o trabalho das secretarias.

Em breve, o Centro Lemann, com seus parceiros, vai disponibilizar novos capítulos contendo orientações sobre as demais etapas que integram todo o processo de seleção de diretores escolares.

Acesse o GUIA PRÁTICO PARA QUALIFICAÇÃO DO PROCESSO SELETIVO DE GESTORES ESCOLARES

 

Pesquisa Global com Lideranças Educacionais (2022). Participe até 14 de agosto!

Vivemos um momento delicado em que é necessário ter um olhar estratégico e muita dedicação para trabalhar pela mitigação dos impactos gerados pelo isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 na aprendizagem dos estudantes.  

Com o objetivo de compreender mais profundamente os desafios enfrentados pelos gestores educacionais em países de renda média e baixa, no contexto pós-isolamento, convidamos você a responder, até o dia 14 de agosto, a segunda Pesquisa Global com Lideranças Escolares (2022) realizada pela Global School Leaders (GSL) com apoio do Centro Lemann e organizações parceiras. 

<< Clique aqui e responda à pesquisa >>

Organização internacional sem fins lucrativos, a GSL trabalha pela mobilização e formação de lideranças escolares e tem como compromisso possibilitar uma educação de excelência para todas e todos os estudantes. 

As perguntas da pesquisa deste ano investigam como tem sido a articulação das lideranças e escolas para a recomposição das aprendizagens e para a atenuação dos impactos na saúde mental e no bem-estar da comunidade escolar.

Estão convidados a responder diretoras(es) e vice-diretoras(es), coordenadoras(es) pedagógicas(os) e equipe administrativa das escolas. Lembramos que o preenchimento é voluntário, anônimo e sem fins lucrativos.

Participe até o dia 14 de agosto de 2022! Agradecemos antecipadamente, reforçando que a sua resposta é muito importante para nós.  

<< Clique aqui e responda à pesquisa >>

Clique aqui e acesse os resultados da pesquisa realizada em 2021.

Viagem ao norte: Centro Lemann visita os municípios de Maués (AM), Breves (PA) e Bagre (PA)

O Programa de Lideranças Educacionais do Centro Lemann possui abrangência nacional. Atuamos em 56 municípios das cinco regiões do país. Em 49 deles, oferecemos formação com duração de 2 anos letivos e carga horária de 360 horas. Nos outros sete, apoiamos os processos de seleção e recrutamento de gestores escolares.

Para que as nossas ações sejam relevantes e efetivas, torna-se fundamental interagirmos com a realidade local, experienciando o cotidiano das lideranças educacionais, tendo contato com os desafios que enfrentam e acompanhando o impacto do nosso programa em suas práticas e resultados.

Foi com esta intenção que Anna Penido, nossa diretora executiva, Rogers Mendes, gestor do Programa de Formação de Lideranças Educacionais, e Veveu Arruda, membro do nosso Conselho Consultivo, percorreram três municípios: Maués (AM), Breves e Bagre (PA). As localidades integram o grupo de 12 redes e 289 gestores da região Norte que participam da nossa iniciativa. 

No artigo a seguir, “Em Busca do Norte”, Anna Penido conta sobre como foi impactada pela visita. Quer saber mais? Leia o texto abaixo.

Em Busca do Norte

por Anna Penido

Insignificância e ignorância. Fui abalroada por esses dois sentimentos enquanto adentrava o interior da região amazônica. Sobrevoar aquela imensidão de rios e florestas fez com que eu me desse conta da minha pequenez diante de tamanha exuberância. Interagir com a população e a realidade local me permitiu perceber que não sabemos quase nada sobre aquela parte do país, não entendemos coisa alguma do que se passa por lá e contribuímos menos ainda para mitigar as muitas adversidades que a ameaçam.

Ao longo de cinco dias, visitei três municípios dos estados do Amazonas e Pará que participam do nosso Programa de Formação de Lideranças Educacionais. Compartilhei a aventura com os colegas Rogers Mendes e Veveu Arruda, respectivamente gestor e conselheiro do Centro Lemann. Nosso intuito era compreender como as nossas ações estavam chegando nas redes municipais de educação de Maués (AM), Breves (PA) e Bagre (PA) e o que fazer para torná-las mais atraentes e relevantes para secretárias(os), técnicas(os) que acompanham as escolas e diretoras(es) escolares daquelas localidades. Tenho esperança de que a nossa viagem provoque impactos positivos no desenvolvimento desses gestores, mas a única certeza que carrego comigo é a de que fui a pessoa mais impactada por essa experiência.

A bordo de aviões grandes e pequenos, lanchas, barcos e navios, pude constatar que, na região norte, as ruas e estradas são mesmo os rios, e as distâncias são medidas por tempo e não por quilometragem. As escolas públicas localizadas na sede dos municípios são maiores e mais bem equipadas, mas a maioria das unidades escolares está espalhada por dezenas de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, localizadas a até 14 horas de deslocamento fluvial. Muitas salas de aula são multisseriadas, e um ou dois professores dão conta de toda a organização escolar, da merenda às atividades pedagógicas, passando pela articulação com as famílias. As escolas indígenas são bilíngues e têm ainda o desafio de trabalhar com idioma, currículo e calendário adaptados à cultura e realidade do seu povo, com participação ativa do cacique em todas essas definições.

O maior entrave para a participação das lideranças educacionais no nosso programa é a instabilidade do acesso à internet. Em dias de chuva, nem os celulares funcionam. A interrupção constante do sinal desanima aqueles que não conseguem acompanhar as atividades on-line. Sugerimos que os prefeitos equipem espaços de formação com computadores potentes e a melhor internet disponível no município, para que os gestores possam não apenas ter acesso à tecnologia, mas ainda dispor de tempo e tranquilidade para usufruir ao máximo das atividades e conteúdos que elaboramos com tanto cuidado. Ainda assim, a solução definitiva só virá se o governo federal pressionar e oferecer contrapartidas às empresas de telecomunicações para que forneçam melhor conectividade nas áreas mais remotas do país.

Também nos preocupamos em checar se as referências e os materiais que utilizamos fazem sentido para as lideranças da região. Foi revoltante perceber o quanto as políticas nacionais desconsideram as especificidades amazônicas e criam regras, condições e protocolos impossíveis de serem implementados naquele contexto tão particular. Da nossa parte, queremos assegurar que o nosso programa faça com que os gestores educacionais desses municípios se sintam menos isolados e verdadeiramente incluídos na nossa formação.

Acreditamos que essas lideranças têm papel fundamental na garantia de uma educação pública de qualidade para cada estudante, mas sabemos que precisam muito de formação e apoio para dar conta dos seus desafios. Nas nossas visitas às escolas locais, não tive a oportunidade de ver um único estudante em atividade pedagógica. Alguns estavam em horário de intervalo, outros em feriado facultativo e ainda tinham aqueles que estavam com aulas suspensas porque não havia combustível no município para abastecer os barcos que fazem o transporte escolar. Isso tudo após dois anos de escolas fechadas por conta da pandemia, com pouco ou nenhum acesso dos alunos a materiais físicos ou atividades remotas.

Despida do meu verniz urbano, percebi que, ao longo da nossa viagem, meu organismo começou a pulsar cada vez mais no ritmo da floresta. Meus sentidos ficaram mais apurados e meus instintos foram se sobrepondo ao pragmatismo que me ajuda a sobreviver na selva de pedra. Enquanto sentia o vento agitar os meus cabelos e a água dos rios respingar na minha face, observava a minha indignação crescer frente às injustiças que impedem tantas pessoas no nosso país de ter seus direitos essenciais assegurados.

No último dia da nossa excursão, em uma roda de conversa com lideranças de Bagre, meu coração se animou ao ouvir relatos de que a formação do Centro Lemann tem gerado transformações pessoais profundas e um olhar mais sensível para a questão da equidade. Um dos técnicos nos contou sobre a sua decisão de finalmente matricular o filho autista em uma escola da rede, e a diretora que o recebeu afirmou seu compromisso de garantir que a sua unidade escolar seja cada vez mais inclusiva. Provocada pelo nosso programa, a rede encontrou alternativas para transportar os estudantes de áreas mais remotas no período em que os igarapés secam, e há novas estratégias pedagógicas sendo pensadas para esse momento de recomposição de aprendizagens. As mudanças de visão e de prática ainda são iniciais, mas renovam o nosso oxigênio e a nossa capacidade de acreditar que a Amazônia é mesmo o pulmão do mundo.

Confira na galeria abaixo imagens dessa jornada.






Acontece durante o mês de junho o primeiro encontro presencial do Programa de Formação de Lideranças Educacionais do Centro Lemann

Depois de uma série de encontros virtuais, os participantes do Programa de Lideranças Educacionais do Centro Lemann têm a oportunidade de trocar experiências presencialmente, mergulhar de maneira ainda mais profunda em um processo de transformação, fortalecer vínculos e sonhar coletivamente. 

Os encontros acontecem até o final do mês de junho de 2022, em nove polos espalhados pelas cinco regiões do país, e reúnem cerca de 2.000 pessoas. Além de Caruaru (PE), onde iniciaram os encontros,  acontecem formações em Sobral (CE), Mata de São João (BA), Goiânia (GO), Belém (PA), Maués (AM), São Paulo (SP), Ponta Grossa (PR) e Joinville (SC). 

O primeiro encontro presencial marca o início do Módulo 2 da formação, focado em Liderança para Equidade. As(os) participantes serão convidados a refletirem sobre o seu projeto de vida e se conectar ao propósito de promover educação com equidade; ampliar seus conhecimentos e consciência sobre como aprimorar sua atuação enquanto líderes para promover maior nível de equidade em suas redes e escolas, e a expandir sua capacidade de desenvolver e utilizar suas competências para mobilizar pessoas, tomar decisões e resolver desafios complexos relacionados às desigualdades educacionais, de forma compartilhada. 

O encontro tem dois dias de duração. A programação inclui momentos de mergulho interior, com foco na trajetória e projeto de vida das(os) participantes, permitindo reflexões voltadas para a transformação pessoal, mas é marcada também por muitas trocas, reflexões coletivas e exercícios práticos de priorização, co-criação de soluções e prototipação a partir de problemas reais, enfrentados pelas redes e escolas.

Rogers Mendes destaca: “O programa de formação proporciona a constante autorreflexão e desenvolvimento por meio da análise de teorias, trocas de experiências e perspectivas entre os participantes. O momento presencial, nesse sentido, potencializa esse processo por meio de interações mais intensas e produtivas no calor do contato mais afetivo”.

Confira abaixo fotos dos encontros:

I Encontro Presencial do Programa de Formação e Mentoria em Pesquisas sobre Equidade na Educação do Centro Lemann

No último final de semana, foi realizado  o I Encontro Presencial do Programa de Formação e Mentoria em Pesquisas sobre Equidade na Educação do Centro Lemann, em Sobral (CE)!

Foram dias enriquecedores, com trocas entre mentoras(es) e pesquisadoras(es) em início de carreira das cinco regiões do Brasil, que deram início à produção de conhecimento e soluções para promover equidade e reduzir as desigualdades educacionais do país

Os participantes do programa ainda puderam se encontrar com pesquisadoras(es) e gestoras(es) educacionais de Sobral e também visitar escolas locais para verificar a implementação das políticas públicas que buscam promover o aprendizado de qualidade nas escolas da cidade.

Ficamos felizes com esse encontro, que foi só o começo de um programa que tem duração de um ano e vai apoiar pesquisadoras(es) em início de carreira a ampliar seu repertório nas áreas de metodologias de pesquisa e políticas educacionais, além de oportunizar que ajudem redes municipais de educação a realizar diagnósticos e propor soluções para promover equidade nas suas escolas.

Pesquisadores em início de carreira e mentores no I Encontro Presencial do Programa de Formação e Mentoria em Pesquisas sobre Equidade na Educação do Centro Lemann | crédito: Dinho Fotografia

Você sabe o que é o Desenho Universal para a Aprendizagem? Leia o artigo escrito por Rodrigo Mendes e saiba mais! 

Convidamos Rodrigo Mendes, integrante do nosso Comitê de Especialistas e fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva, para compartilhar conosco alguns componentes-chave de um processo pedagógico que leve em conta a inclusão de todas e cada uma das pessoas envolvidas. 

No artigo “Planejamento apurado e tecnologias digitais: aliados decisivos da inclusão escolar”, Rodrigo explica o que é o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), um modelo que surgiu em 1990 e tem como objetivo apoiar educadores no atendimento a perfis diversos de estudantes, em um mesmo ambiente de ensino, sem abrir mão do compromisso de cultivar altas expectativas em relação à aprendizagem de cada um e cada uma. 

Confira o artigo completo abaixo e vamos, juntas e juntos, promover e fomentar a educação inclusiva em todo o país.

Planejamento apurado e tecnologias digitais: aliados decisivos da inclusão escolar

Rodrigo Mendes

Nos anos 1990, um grupo de professores da Universidade de Harvard, liderado por David Rose, engajou-se na busca por uma abordagem pedagógica que respondesse às demandas resultantes de salas de aula cada vez mais heterogêneas. Esse amplo esforço culminou na criação do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), modelo que tem como objetivo apoiar educadores sobre como atender perfis diversos de estudantes, em um mesmo ambiente de ensino, sem abrir mão do compromisso de perseguir altas expectativas para cada um.

Traduzindo em miúdos, o DUA baseia-se na adoção de um planejamento pedagógico orientado pelas diferenças existentes na sala de aula e no uso extensivo de tecnologias digitais. Sua lógica conceitual foi construída a partir de extensas pesquisas da neurociência sobre o processo de aprendizagem. Tais estudos comprovam a percepção de que a ideia do “aluno regular” — no sentido de um aluno que aprende de acordo com padrões pré-estabelecidos — é fantasiosa. O que se observa é uma infinita variedade de processos particulares a cada pessoa, quase como uma impressão digital.

Apesar dessa inexistência de padrões, podemos perceber que a aprendizagem contempla três redes cerebrais: uma de reconhecimento — especializada em receber e analisar informações, ideias e conceitos —, outra rede responsável por planejar, executar e monitorar ações, e uma terceira, denominada afetiva, que desempenha o papel de avaliar padrões, estabelecer significância emocional a eles e eleger prioridades. Vale mencionar que essas redes dialogam com os pré-requisitos para a aprendizagem descritos pelo psicólogo Lev Vygotsky, grande influenciador da educação contemporânea, que salientava a importância de três pressupostos: o reconhecimento da informação a ser aprendida, a aplicação de estratégias para processar essa informação e o engajamento com a tarefa de aprendizagem.

Considerando as redes mencionadas, o DUA sugere que o planejamento pedagógico incorpore a diversificação de três componentes-chave do processo: a apresentação dos conteúdos curriculares, a mediação da aprendizagem e o envolvimento dos alunos. Em outras palavras, propõe que os educadores adotem múltiplos formatos de materiais didáticos, estratégias pedagógicas e inter-relações entre o conteúdo e a vida real do estudante.

As mídias digitais exercem um papel fundamental para quem pretende trabalhar a partir do DUA. Sua flexibilidade abre possibilidades para diversos percursos de aprendizagem, na medida em que viabilizam variadas combinações entre texto, fala, imagem, além da ressignificação do erro, que pode passar a ser entendido como parte natural do processo de aprendizagem. Os smartphones, tablets, notebooks e livros digitais são exemplos desse tipo de tecnologia, capaz de ampliar substancialmente os horizontes de desenvolvimento de cada aluno.

Cabe citar que o Instituto Rodrigo Mendes e o Instituto Unibanco produziram, recentemente, uma pesquisa sobre o panorama atual de tecnologias digitais que favorecem a inclusão escolar de estudantes com deficiência. O estudo apresenta dados sobre publicações acadêmicas, exemplos de produtos desenvolvidos por big techs e casos de instituições que já estão explorando esses recursos em suas rotinas.

Atualmente, mais de 70% dos docentes do Brasil manifestam ter dificuldades em atender estudantes com deficiência em ambientes inclusivos. Diante desse cenário, o Desenho Universal para a Aprendizagem representa uma poderosa ferramenta para viabilizar o acesso de todos ao conhecimento. No final do dia, contribui para a melhoria da qualidade da educação de todo aluno e torna factível nossa missão de não deixar ninguém para trás.

Rodrigo Hübner Mendes é fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva. É mestre em administração pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka.

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