Lançada a Latam Hub, uma coalizão pelo desenvolvimento de lideranças escolares da América Latina

O Centro Lemann e a Global School Leaders lançaram, na cidade de São Paulo, nos dias 15 e 16 de julho, a Latam Hub, uma coalizão latino-americana com foco no desenvolvimento da liderança escolar na região.

A partir de um diagnóstico sobre o contexto e as organizações da sociedade civil que se destacam pelo trabalho focado em lideranças escolares, cinco instituições sediadas na Argentina, no Brasil, na Colômbia, no México e Peru foram convidadas para este primeiro encontro, em que dialogaram sobre os principais desafios, oportunidades e diferenciais das organizações e países envolvidos.

Da reunião, saiu uma primeira proposta para o lançamento da coalizão. A ideia é que seja um espaço de trocas, curadoria e geração de evidências e criação de referências de políticas públicas, tendo sempre lideranças escolares como protagonistas do processo.

“A mudança que buscamos não é somente de práticas, mas também de crenças. É uma mudança profunda, de sentimentos, de valores, que demanda tempo para que seja transformadora. Então nós saímos daqui entusiasmadas(os) com todas as possibilidades postas e ansiosas(os) pelos próximos passos”, ressaltou Anna Penido, diretora-executiva do Centro Lemann.

Participaram desse primeiro encontro, ao lado do Centro Lemann e da Global School Leaders, as instituições Educando (México), Empresarios por la Educación (Colômbia), Enseña Peru (Peru) e Varkey Foundation (Argentina).

Centro Lemann e Instituto Itaúsa discutem soluções em diálogo entre clima, educação e equidade

“Se nossas crianças não se reconhecem enquanto seres da terra, seres da natureza, antes de seres humanos, nós não vamos nos reconhecer enquanto parte do problema climático e não vamos conseguir superá-lo”, discursou Thiago Karai Djekupe, liderança da Terra Indígena Jaraguá Pyguae e ativista das questões climáticas.

Thiago fez essa provocação a uma plateia de cerca de 50 lideranças de organizações que contribuem com a educação brasileira, na última sexta-feira, dia 19 de abril. O evento não celebrava exatamente o Dia dos Povos Indígenas, mas era como se fosse. A liderança encerraria sua fala de abertura com outra provocação à civilização não-indígena. “Nossa educação sempre busca pela evolução, nunca é voltada para o ser e sentir”.

Tocada pela fala de seu convidado, Anna Penido, diretora-executiva do Centro Lemann, e uma das anfitriãs do evento, aceitou a provocação e perguntou à plateia: “Nós não precisamos, nos currículos, ter esse tipo de sabedoria? Integrar esses conhecimentos sobre clima e território à educação para poder avançar?”.

As perguntas de Anna, mediadora da conversa, aqueceu a plateia e os demais convidados do “Diálogo Clima, Educação e Equidade”, um esforço do Centro Lemann em parceria com o Instituto Itaúsa para que lideranças educacionais do terceiro setor pudessem refletir sobre crise climática, seus efeitos nas desigualdades e como a escola pode e deve interagir e colaborar para enfrentar esse desafio.

Responsável por abrir a conversa, Neca Setubal, conselheira do Instituto Itaúsa, celebrou e justificou aquele diálogo aberto. “Nós estamos neste auditório porque estamos conscientes de que o clima precisa entrar na escola de forma orgânica e aberta para a comunidade”.

O Instituto Itaúsa atua pelo desenvolvimento sustentável do Brasil e, como especialista do tema, coube ao seu head de sustentabilidade, Marcelo Furtado, traçar um panorama das questões climáticas para os especialistas presentes.

Primeiro, o ambientalista falou de três crises simultâneas – clima, natureza e pessoas – para dizer como isso afeta a educação de maneira direta e implacável. “Em um mundo que deverá completar, neste ano, o aquecimento do planeta em 1,5 graus anunciado no Acordo de Paris (2015), esse não é um problema trivial. Com a crise do clima, falta água, falta comida, e as prioridades simplesmente mudam: as pessoas deixam de mandar as crianças à escola”, alertou.

Furtado apontou para soluções possíveis no horizonte. “Nossa oportunidade está em três transições: uso consciente da água, uma agricultura de baixo carbono e, terceiro, uma mudança nos nossos padrões de emissão”.

A interface com a educação

Na última parte do Diálogo, os três convidados foram provocados a apontar caminhos para que a educação integre esse debate e ajude a encontrar soluções. “O que a gente não pode fazer é tratar as questões trazidas aqui como temáticas de meio ambiente. Essa conversa é sobre sociedade, é pauta econômica e educacional. Nós precisamos sair do nicho e tratar o clima e a educação como temas transversais de toda a agenda”, defendeu Furtado.

Em um discurso emocionante, Thiago relembrou seus ancestrais e defendeu a integração da escola aos territórios indígenas como forma de trazer os estudantes para perto dos povos tradicionais brasileiros. “Tem muita gente que não sabe que em São Paulo, aqui perto da gente, tem uma terra indígena. É necessário que as escolas criem uma rotina de visitas a esses territórios, criar um sistema de diálogo que possa quebrar o racismo e o preconceito desde a escola”, finalizou.

Políticas e programas internacionais que promovem a equidade na educação

O estudo, lançado pelo Centro Lemann, Fundação Lemann e Black Education Research Center – BERC oferece subsídios para o desenho de políticas públicas e ações que possam enfrentar a desigualdade educacional provocada pelo racismo.

A pesquisa, produzida por Sonya Douglass e Brett Grant, pesquisadores da Universidade Columbia (EUA), aborda as principais características e implementação de políticas e programas que promovem a equidade racial na educação, sobretudo dos Estados Unidos. Esmiuça o contexto de negras e negros na América Latina e no Brasil, ressaltando o impacto do mito da democracia racial nas escolas brasileiras. 

Os autores acreditam ser fundamental o envolvimento da liderança educacional e a inclusão de comunidades não brancas em todos os processos de tomada de decisão para mitigar os efeitos negativos do racismo estrutural nas redes de ensino e escolas. O estudo também traz orientações, ferramentas, metodologias, estratégias e boas práticas para subsidiar as lideranças nessa missão. 

Faça download do estudo em: Políticas-e-programas-internacionais-que-promovem-a-equidade-na-educacao_2023

Guia para realizar um bom diagnóstico de equidade racial

 

Publicação realizada pela parceria entre Centro Lemann, Fundação Lemann e Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) oferece um passo a passo para identificar as desigualdades raciais em redes de educação e escolas.

Para ter dados e evidências sobre a situação das escolas da sua rede de educação é essencial realizar um diagnóstico local. O guia, elaborado por Ernesto M. Faria e Lecticia Maggi, do Iede, explica como coletar dados, aplicar questionários, cruzar dados públicos com os locais, comunicar os resultados e transformá-los em indicadores para monitorar os desafios encontrados. Também apresenta práticas bem-sucedidas de redes que implementaram diagnósticos e criaram soluções para enfrentar a desigualdade racial em suas escolas.

O guia foi elaborado com a contribuição de docentes, diretoras(es) escolares, pesquisadoras(es), profissionais do terceiro setor, técnicas(os) e gestoras(es) de secretarias de educação. É uma ferramenta prática para lideranças educacionais darem um passo à frente na construção de uma educação antirracista.

Faça download em: Guia-para-realizar-um-bom-diagnóstico-de-equidade-racial_2023

Programa South-South completa um ano de atuação e celebra avanços na educação do Paquistão e Quênia

Os depoimentos de alguns dos 60 participantes do Programa South-South indicam que o trabalho realizado no sul global alcançou significativos avanços. As altas lideranças do Quênia e do Paquistão têm engajado diferentes organizações para criar coalizões e estruturar programas e iniciativas capazes de gerar uma ampla reforma nos sistemas educacionais de seus países.

Um dos marcos dessa ampla mobilização foi a viagem das lideranças a Sobral, em 2022, com o objetivo de dialogar com gestores locais e conhecer as políticas públicas de educação do município, que embasaram soluções efetivas para problemas comuns também a esses países: o analfabetismo e a distorção idade-série nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

A imersão em Sobral fez parte de uma ampla formação para desenvolver conhecimentos, articular redes e criar comunidades de prática entre nações do sul global com o propósito de superar desafios educacionais locais.

O programa apoia as lideranças na expansão de suas capacidades em promover coalizões intersetoriais que impulsionem reformas educacionais sistêmicas. Também fomenta a articulação de uma rede entre nações do sul do planeta para gerar impacto positivo em relação à crise global de aprendizagem. 

A primeira edição do Programa South-South foi realizada pelo Centro Lemann em parceria com estas organizações: Ministério de Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento do Reino Unido (FCDO), Education Development Trust (EDT), Fundação Lemann, Lemann Foundation Programme for the Public Sector – Blavatnik School of Government/Universidade de Oxford, Zizi Afrique e Idara-e-taleem-o-Aagahi (ITA) e PAL Network.

“Mapeamento de estudos nacionais sobre desigualdades educacionais” aponta escassez de pesquisas que indiquem caminhos para uma educação pública de qualidade com equidade

Estudo realizado em parceria com o D³e – Dados para um Debate Democrático na Educação e apoio da Porticus sugere oportunidades para novas pesquisas que preencham as lacunas identificadas na análise.

Conduzida pelas pesquisadoras Priscilla Tavares, professora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV), e Lara Simielli, integrante do Conselho Científico do D3e e professora do Departamento de Gestão Pública na Fundação Getulio Vargas (EAESP/FGV), a pesquisa revelou que o Brasil ainda carece de referências capazes de  propor soluções para políticas públicas educacionais voltadas ao enfrentamento das desigualdades e à promoção de uma Educação Básica de qualidade com equidade.

O mapeamento localizou e avaliou 117 estudos sobre desigualdades educacionais produzidos no País, nos últimos dez anos, com base em três categorias: insumos, processos e resultados. A análise partiu de cinco marcadores de desigualdades educacionais (gênero, raça, nível socioeconômico, localidade e deficiência), trabalhados pelo Centro Lemann nas formações com lideranças educacionais. O resultado mostrou que a maior parte dos estudos aborda as diferenças no acesso a insumos, obtenção de resultados observados entre estudantes em cada marcador (meninas versus meninos; brancos versus negros, por exemplo) – que se configuram como as desigualdades mais estudadas.

O levantamento concluiu que as lacunas identificadas são potenciais oportunidades para futuras pesquisas que foquem nas categorias insumos para além da infraestrutura básica, na categoria processos nas dimensões raça, nível socioeconômico e localidade, e ampliação da gama de comparações de gênero, raça e deficiência e no conhecimento sobre Educação Infantil e Ensino Médio, aprofundando abordagens metodológicas mais robustas.

Para  conhecer o mapeamento, acesse a plataforma “Estudos sobre desigualdades educacionais”, com mapas e infográficos detalhados da análise. https://estudosdesigualdadeseducacionais.centrolemann.org.br/

Centro Lemann está entre iniciativas destacadas por pesquisa internacional sobre ecossistemas de aprendizagem no sul global

A pesquisa Exploring local learning ecosystems in the global south: pathways to thriving for every child (Explorando ecossistemas locais de aprendizagem no sul global: caminhos para o êxito de cada criança, em tradução livre) realizada pela Learning Planet Alliance, em parceria com Dream a Dream e Global Education Leaders Partnership (GELP), é o resultado de uma extensa análise de mais de cem projetos educacionais na América Latina, África e Ásia. Dessa imersão, foram selecionadas 11 iniciativas, de nove países, cujas características exemplificam o poder transformador dos ecossistemas de aprendizagem.

O Centro Lemann está entre as ações selecionadas e integra um grupo de quatro iniciativas da América Latina. O destaque coube ao nosso Programa de Formação de Lideranças Educacionais, que busca desenvolver o compromisso e a capacidade de secretárias(os) de educação, equipes técnicas das secretarias e gestoras(es) escolares, para que possam promover educação de qualidade com equidade em suas redes e escolas.

As(os) pesquisadoras(es) realizaram entrevistas com gestoras(es), profissionais e beneficiárias(os) de cada ação para sistematizar modelos que possam inspirar políticas educacionais em contextos que não se identificam com as práticas do norte global. Desta forma, pretende-se criar um futuro em que os ecossistemas de aprendizagem prosperem e impulsionem a transformação educacional em escala mundial. Clique aqui e faça o download da pesquisa. Você também pode clicar aqui para assistir ao vídeo em que Anna Penido, nossa diretora-executiva, compartilha os objetivos do Programa de Formação de Lideranças Educacionais (em inglês).

MARCADORES DA DESIGUALDADE EDUCACIONAL: DESAFIOS QUE IMPEDEM O ACESSO À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Nós acreditamos que a educação com qualidade e equidade não só é possível como prioritária. Garantir que todas(os) acessem e permaneçam na escola, desenvolvendo-se integralmente em um ambiente seguro e acolhedor, é missão das lideranças, desde governadoras(es) e prefeitas(os) a secretárias(os) de educação e gestoras(es) das escolas.

Por isso, trabalhamos esse objetivo nas formações que realizamos junto às lideranças educacionais, com olhar apurado para os desafios relacionados aos marcadores da desigualdade educacional. Desta forma, temos subsídios para pensar, coletivamente, em soluções efetivas e sustentáveis, capazes de incluir estudantes diversos na comunidade escolar, a fim de que aprendam e sigam com sucesso suas trajetórias.

Para orientar esse trabalho, pautamos nossas reflexões em cinco marcadores, que vamos explorar a seguir: cor ou raça, gênero, localidade, nível socioeconômico e deficiência. Importante ressaltar que, no cotidiano escolar, esses marcadores se sobrepõem, acentuando os efeitos negativos nas(os) estudantes, portanto, essa interseccionalidade também deve estar presente nas conversas, formações e trocas sobre como garantir educação de qualidade com equidade. 

Essencial ter em mente que a trajetória de cada pessoa é influenciada pelas oportunidades educacionais vivenciadas ao longo da vida, muitas vezes determinadas pela origem e pelo contexto histórico e social em que se desenvolve, desde o nascimento. Os desníveis de acesso à educação de qualidade atuam como mecanismo de reforço a todas as demais formas de desigualdade, inclusive a de renda.

Raça: falta de dados dificulta políticas educacionais para enfrentar o racismo

No que diz respeito ao marcador racial e étnico, os processos de colonização e dominação geraram hierarquias que asseguraram privilégios sociais a alguns grupos enquanto prejudicaram e colocaram como inferiores outros, inclusive no que diz respeito ao direito à educação. A desigualdade nesse campo é produto do racismo estrutural que caracteriza o Brasil, e os sistemas educacionais muitas vezes o reforçam. 

Políticas redistributivas de recursos e de reconhecimento, que valorizam as identidades de grupos historicamente excluídos, tendem a assegurar a efetivação do direito à educação a estudantes negras(os). No entanto, é preciso superar as altas taxas de não declaração de raça ou cor em questionários socioeconômicos de instrumentos de avaliação escolar. Sem acesso a esse tipo de informação, torna-se difícil medir as diferenças de oportunidades e pensar em políticas educacionais para superá-las. 

Gênero: estereótipos afetam desenvolvimento integral de estudantes

Desigualdades de oportunidades começam antes mesmo do nascimento, quando pais e mães fomentam expectativas tradicionais sobre o sexo biológico da criança, que se consolidam durante a infância, quando meninos e meninas recebem estímulos distintos. Há evidências, por exemplo, de que meninas tendem a se sentir mais intimidadas por seus pares masculinos em ambientes de aprendizado, enquanto os meninos se sentem mais à vontade para participar ativamente. 

Estereótipos sobre o que é para homens e o que é para as mulheres também se refletem nas estatísticas relacionadas à trajetória escolar, ao desempenho acadêmico e ao mercado de trabalho. Esses estereótipos impactam de forma singular crianças, adolescentes e jovens que não se identificam como cisgênero e cuja identidade de gênero não está alinhada ao sexo atribuído no seu nascimento. Essas pessoas sofrem diversas formas de violência adicional no ambiente escolar, muitas vezes sem apoio e atenção adequados para que se sintam seguros no espaço de aprendizagem.

Trabalhar a formação das equipes, envolver estudantes e famílias para lidar com a temática é o primeiro passo no sentido de enfrentar as injustiças de gênero na escola.

Localidade: diferenças entre escolas urbanas, rurais e de periferia afastam a equidade

Acesso à infraestrutura básica, como banheiro, acessibilidade para pessoas com deficiência, abastecimento de energia elétrica e água por redes públicas, e a existência de equipamentos adequados para o desenvolvimento educacional de estudantes, como bibliotecas, laboratórios de informática e de ciências e acesso à internet, são significativamente maiores nas escolas urbanas, especialmente localizadas em regiões mais centrais e abastadas. Quadro completo de docentes, estabilidade dos contratos de trabalho, formação continuada, acesso a outros insumos fundamentais, como transporte e merenda escolar, são comumente deficitários nas escolas de zonas rurais. Muitas delas ainda trabalham com turmas multisseriadas, o que representa um desafio adicional para professoras(es). 

No âmbito das áreas urbanas, também é preciso considerar as desigualdades entre centro e periferia, caracterizadas por desafios específicos, como longos deslocamentos diários para acessar serviços públicos e renda, por exemplo, e a convivência com diferentes violências.

Para transformar essa realidade, é preciso mudar, também, a lógica de alocação do investimento público, visando alcançar uma distribuição equitativa de recursos.

Nível socioeconômico: renda das famílias influencia a escolaridade de estudantes

Famílias de maior poder aquisitivo vivem em contextos mais favoráveis para aumentar seu nível de escolarização e pessoas mais escolarizadas recebem maiores salários. Este fato perpetua as desigualdades e um cenário de baixa mobilidade socioeconômica. 

Crianças, jovens e adolescentes que crescem em famílias com nível socioeconômico menos favorecido tendem a enfrentar desafios que ameaçam sua sobrevivência, como a falta de segurança alimentar e de acesso a serviços públicos de qualidade, gerando uma trajetória escolar irregular com maior propensão ao abandono dos estudos.

Para superar essas desigualdades, impostas desde o começo da vida, é necessária uma ação intersetorial entre as áreas de educação, saúde, segurança, assistência social, direitos humanos, cultura, esporte e lazer, dentre outras.

Deficiência: aparato da lei não tem garantido acesso de estudantes com deficiência Estudantes com deficiência, no espectro autista e com altas habilidades têm sido excluídos do sistema educacional regular, mesmo o País possuindo um amplo aparato regulatório, como a Lei Brasileira de Inclusão 13.146 de 2015. 

A educação inclusiva beneficia todas(os) as(os) estudantes e não apenas aquelas(es) com deficiência. Apesar disso, muitas(os) dessas(es) alunas(os) estão fora da escola ou em instituições segregadas. Aquelas(es) que conseguem se matricular em escolas públicas regulares enfrentam a falta dos recursos necessários para garantir um processo adequado de inclusão, enfrentando barreiras que dificultam sua permanência e comprometem sua trajetória escolar.

Por tanto, é necessária a promoção de políticas públicas para remover barreiras que impedem a participação efetiva desse grupo de estudantes na escola, como a oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE), para complementar a sua experiência educacional de acordo com suas especificidades. 

O Centro Lemann atua para que, com base em resultados e desafios educacionais, evidenciados por dados e pesquisas, as lideranças educacionais considerem esses recortes e se debrucem sobre eles, de forma a incentivar o desenho de soluções para a promoção de uma educação com qualidade e equidade. 

Estudantes com deficiência ainda enfrentam desafios para frequentar a escola regular

Deficiência é um dos marcadores da desigualdade educacional utilizados pelo Centro Lemann nas formações com secretárias(os) de educação, equipes técnicas das secretarias e gestoras(es) escolares para fomentar a educação de qualidade com equidade. 

Historicamente, estudantes com deficiência, no espectro autista e com altas habilidades são excluídas(os) das salas de aula, mesmo tendo um amplo aparato regulatório, que garante sua frequência na escola regular, como a Lei Brasileira de Inclusão (13.146), de 2015, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu capítulo V. Portanto, cabe ao poder público criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar ações que concretizem a inclusão. 

As lideranças educacionais têm uma missão essencial nesse contexto, promovendo políticas públicas que removam barreiras, como a oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE) para complementar a experiência de aprendizagem dessas(es) estudantes, de acordo com suas especificidades. O AEE prevê a mediação pedagógica para possibilitar o acesso de alunas(os) com deficiência ao currículo, sendo que sua oferta deve constar do projeto pedagógico da escola (Decreto nº 7.611/2011), em todas as etapas e modalidades da Educação Básica.

Os benefícios de uma educação que acolha e desenvolva pessoas com deficiência impactam todas(os) estudantes e equipes escolares, mas ainda estamos distantes de viabilizá-la plenamente na rede pública. Uma significativa parte de pessoas com deficiência ou está fora da escola ou frequenta instituições segregadas. Quando conseguem se matricular em escolas regulares, enfrentam diferentes obstáculos, como a falta de recursos para garantir um processo adequado de inclusão, o que dificulta a permanência e compromete sua trajetória escolar.

Sem dúvida a inclusão de pessoas com deficiência na rede pública de educação é um desafio, ampliado com os efeitos da pandemia da Covid-19, que exacerbaram os obstáculos enfrentados por crianças, adolescentes e jovens com deficiência, ao transitar de forma emergencial para o ensino remoto sem a devida adequação de materiais e a garantia de acessibilidade às aulas. No entanto, mesmo diante de condições adversas, lideranças educacionais e suas equipes precisam dedicar-se a mudar cenários excludentes para que o acesso à educação seja, de fato, um direito de todas(os). Incluir estudantes com deficiência nas escolas regulares e garantir que se desenvolvam, de acordo com suas especificidades, é um dever legal e social.

Diferentes níveis socioeconômicos alargam desigualdades também na educação, impactando a escolarização e o futuro profissional de estudantes

Convidamos você, liderança educacional, a refletir conosco sobre os efeitos negativos das desigualdades socioeconômicas no desenvolvimento integral de alunas(os) de baixa renda.

Para iniciar essa conversa, vale ressaltar que o nível de escolaridade no Brasil está fortemente associado à renda e vice-versa. Famílias economicamente mais ricas vivenciam contextos mais favoráveis para aumentar sua escolarização. Para além desse fator, sabe-se que pessoas mais escolarizadas recebem melhores salários. Estas são condições básicas para a perpetuação das desigualdades e de um cenário de baixa mobilidade socioeconômica para crianças, adolescentes e jovens que nascem e vivem em núcleos familiares de baixa renda.

Estudantes de contextos mais abastados tendem a ter mães e pais mais escolarizadas(os), que oferecem, desde o início da vida, melhores condições para o desenvolvimento de um vocabulário amplo, acesso a bens culturais e a ambientes com condições estimulantes à aprendizagem, considerados fatores cruciais para o desenvolvimento integral, desde a primeira infância. Já as(os) que crescem em famílias com baixo nível socioeconômico são mais propensas(os) a enfrentar desafios que ameaçam sua sobrevivência, como violências, falta de segurança alimentar e de acesso a serviços públicos de qualidade, como escolas. A exclusão dos direitos básicos tende a conduzir essas(es) estudantes a uma trajetória escolar irregular, ampliando as chances de abandono, evasão e/ou distorção entre idade e série.

Desigualdades impostas desde o início da vida fazem com que crianças de origens socioeconômicas distintas enfrentem condições diferentes de acesso e fruição de oportunidades educacionais, que podem se perpetuar nas etapas seguintes do Ensino Básico. Por isso, é essencial que lideranças educacionais desenhem e implementem políticas públicas de promoção da equidade, para remediar essas condições desfavoráveis, traçando novas e bem-sucedidas trajetórias para estudantes de baixo nível socioeconômico. 

Tais medidas exigem uma ação coordenada da educação com outras áreas, como saúde, segurança, assistência social, direitos humanos, cultura, esporte e lazer. Por meio de uma ampla articulação intersetorial é possível avançar no propósito urgente e inegociável de promover educação de qualidade com equidade para todas e todos. Mudar esse cenário é um imperativo legal, moral e social, para a construção de uma sociedade igualitária, inclusiva e diversa. E a educação é a alavanca mais potente para protagonizar o enfrentamento desse grande desafio.